segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O cachão da valeira


A inscrição no Cachão da Valeira, que data do séc. XVIII, encontra-se no lugar do Ermo, na margem esquerda do rio Douro, a 1 Km, a montante, da barragem da Valeira, sendo acessível apenas por barco. É uma inscrição epigráfica incrustada na face voltada a N. De um rochedo granítico, a 247 palmos acima da superfície das águas, com letras latinas, capitulares, embutidas de bronze dourado, e encimada pela incrustação de uma coroa fechada.Nela pode ler-se: IMPERANDO D. MARIA PRIMEIRA/ SE DEMOLIU O FAMOZO ROCHEDO/ QUE FAZENDO AQUI/ HUM CACHAM INACCESSIVEL/ IMPOSSIBILITAVA A NAVEGAÇÃO/ DESDE O PRINCIPIO DOS SÉCULOS/ DUROU A OBRA/ DESDE 1780 ATÉ 1791/ PATRIAM AMAVI FILIOS QUÉ DILEXI. Em 1530, verificaram-se as primeiras tentativas para destruir o Cachão da Valeira, uma cascata numa garganta rochosa do rio, que impedia a navegabilidade completa do rio Douro, por Martim de Figueiredo, com "Fogo de Vinagre"; nos séc. XVII e XVIII, mais precisamente nos reinados de D. Pedro II e D. João V foram efectuados diversos estudos para a execução da obra; em 1779, a Companhia Geral da agricultura e Vinhas do Alto Douro recebe autorização de D. Maria I para cobrar impostos sobre o vinho, aguardente e vinagre transportados pelo rio Douro, com o propósito de os aplicar em obras que o tornassem navegável. Um dos obstáculos era o Cachão da Valeira ou de S. Salvador da Pesqueira, constituído por um estrangulamento do rio Douro entre enormes fragas abruptas que faziam precipitar as águas numa queda de 7 metros de altura, formando inferiormente um poço. O padre António Manuel Camelo, de S. João da Pesqueira, foi encarregue da destruição dos rochedos e alargamento do leito do rio, coadjuvado por José Maria Yola, Engenheiro Hidráulico da Sardenha. Em 1780, inicia-se a obra de demolição do Cachão, com mais de 4300 tiros dados abaixo da linha de água, alargando-se o leito do rio 35 pés; em 1789, os primeiros barcos começaram a subir e a descer o rio com segurança; e em 1791, a obra foi dada como concluída. Em 1976, assiste-se à construção da barragem da Valeira.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Em que Reino

“Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjugação dos astros, em que dia secreto
Que mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular ideia de inventar a alegria



Com Outonos de ouro a inventaram.
O vinho rubro ao longo das gerações
Como o rio do tempo no árduo caminho
Nos invada sua música, seu fogo e seus leões.



Na noite do júbilo na jornada adversa
Exalta ou mitiga o espanto
E a exaltação nova que este dia lhe canto



Outrora a cantarem o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história
Como se esta já fora cinza na memória.”

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Algumas senhoras não gostam de vinho, só gostam de Champagne.

Na sua forma mais próxima da actual, os vinhos efervescentes terão nascido na região de Champagne, no seio das congregações beneditinas, de que a mais famosa é a abadia de Saint-Pierre d´Hautvillers.
Foi aqui que o lendário Dom Pérignon (1638-1715) pôs em prática o seu grande talento enológico e desenvolveu a produção de um vinho que viria a salvar a economia do seu mosteiro e de toda a vasta região de Champagne.
Diz um dos seus discípulos que Dom Pérignon “não provava as uvas nas vinhas, ainda que lá se deslocasse todos os dias com o aproximar da maturidade. Recebia amostras de uvas de vinhas que destinava aos vinhos de primeira qualidade e deixava-as passar a noite ao ar, sobre a sua janela. Na manhã seguinte provava-as, tendo em conta as condições do ano – precoce, tardio, frio ou pluvioso – e o facto de as vinhas estarem bem ou mal providas de folhas. Tudo isto lhe indicava as regras para a composição dos seus vinhos mais distintos.”
Pode pois, com justiça, atribuir-se a Dom Pérignon a paternidade das assemblages, ou seja, das judiciosas misturas de uvas ou de vinhos com origem e condições de produção diferentes, uma questão que continua perfeitamente actual.
O fenómeno do rebentamento de garrafas, algumas semanas após o enchimento dos vinhos, deve ter intrigado Dom Pérignon e os seus contemporâneos, que, em breve, concluíram haver uma refermentação no interior da garrafa. Daí ao controlo do fenómeno foi um passo. Se o vinho fosse adicionado de uma quantidade correcta de açúcar ele iria fermentar dentro da garrafa, produzindo efervescência, sem pressão excessiva e, por isso, sem rebentamento.
Um dos aspectos de que esses precursores muito cuidaram foi o da prensagem das uvas. Já então, dominavam em Champagne as uvas de castas tintas, como a Pinot Noir. A extracção de um mosto pouco corado a partir de uvas tintas, embora facilitada pelo facto de as uvas, em Champagne, não serem muito ricas em matéria corante, exige, de qualquer modo, uma técnica de prensagem muito apurada, que se deve em parte ao génio de Dom Pérignon, Frére Oudar (1654 – 1742) e, certamente, muitos outros religiosos dessas notáveis congregações beneditinas.
As primeiras tentativas de produção de espumante em Portugal terão surgido na região do Douro. Ferreira Lapa (1874) diz que provou vinhos espumantes do Douro, da casa Forrester, apresentados na exposição agrícola do porto de 1860, “que não ficariam abaixo dos melhores Sillery”.
Outras notícias indicam que, por volta de 1885, foram elaborados vinhos espumantes em Castelo de Vide. Ignora-se o alcance comercial destas iniciativas, sendo provável que tenham tido pouco êxito, a avaliar pela escassa referência que lhes é feita nos anos seguintes.
O que se conhece, documentalmente, é o testemunho dado em pleno Congresso Vitícola Nacional, em 1895, pelo Eng.º agrónomo José Maria Tavares da Silva, primeiro director da então chamada Escola Prática de Viticultura e Pomologia da Bairrada, hoje Estação Vitivinícola da Bairrada.
Afirmou Tavares da Silva: “comecei a elaboração de espumantes em 1890, ano em que igualmente começou a Real Companhia do Norte”.
Conclui-se, portanto, que o início da produção de espumante à escala comercial se deu no mesmo ano na Bairrada e em Vila Nova de Gaia. Alguns anos depois (1898) arrancou a produção em Lamego, sob a égide do Comendador José Teixeira Rebelo Júnior.
Com a publicação do Decreto-Lei nº 70/91, de 8 de Fevereiro, reconhece-se, pela primeira vez em Portugal, uma denominação de origem para espumante, precisamente a denominação Bairrada, relativamente à qual se definem as condições de produção e comercialização respectivas.
Posteriormente, diversas regiões portuguesas adaptaram os seus estatutos à produção de espumante que é hoje uma realidade em quase todo o território nacional.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A filoxera

A filoxera é um minúsculo insecto (0,3 a 3 mm de comprimento nos seus diversos estádios de desenvolvimento) sugador de seiva, aparentado com os pulgões, com um ciclo de vida muito complexo e totalmente dependente da vinha, única planta em que pode desenvolver-se.
Um professor meu dizia: “a filoxera é como a coca-cola, é ruim e vem da América”. A filoxera está hoje presente em todos os continentes, sendo um dos exemplos mais marcantes do efeito humano sobre a dispersão das espécies, já que, em poucas décadas, esta espécie evoluiu de um habitat localizado para uma distribuição global, com uma rapidez que, ainda hoje, não deixa de surpreender.
A sua expansão foi rápida e devastadora progredindo pelos vinhedos em "mancha de óleo" a partir dos pontos de infecção. A velocidade de expansão dependeu da densidade das vinhas e das características edáfo-climáticas das regiões, progredindo mais rapidamente na direcção dos ventos dominantes no fim do verão dado que a fundação de novas colónias depende da chegada das minúsculas fêmeas que são facilmente arrastadas pelos ventos.
A sua introdução em territórios distantes deve-se à imprudência humana já que os ovos de inverno e as formas radículas sobrevivem facilmente ao transporte de plantio ou de partes das videiras, podendo mesmo os ovos ser transportados em ferramentas, roupas ou outros objectos que tenham estado em contacto com videiras infectadas. Assim, apesar de todos cuidados e das medidas de isolamento fitossanitário tomadas em muitos estados desde os finais do século XIX para combater esta praga, ela não parou de se expandir.
Esta praga foi identificada pela primeira vez em Portugal em 1865 na região demarcada do douro mais propriamente em vila real. Imediatamente as vinhas começaram a ficar destruídas e como consequência deixou de haver vinho. O vinho de Porto na altura era o produto mais exportado do nosso país que mais contribuía para a economia nacional. A situação de crise estava instalada governo foi obrigado a tomar medidas chamadas na altura de "quase de foro de salvação nacional". Foram tempos duros e muito difíceis!
Mas a salvação surgiu pelas mãos de Dona Antónia Adelaide Ferreira, A Ferreirinha, descobre que as videiras enxertadas em porta-enxertos americanos são resistentes a praga. Tendo a certeza desse facto manda enxertar todas a vinhas com esses porta-enxertos. Hoje em dia nós mesmo ainda chamamos e muito empiricamente americano aos porta-enxertos utilizados para a plantação das vinhas novas.
Passado mais de um século do aparecimento da praga podemos ver ainda hoje na nossa região os mortórios, vinhas atacadas pela filoxera e abandonadas desde então. Sebastião José de Carvalho e Melo, O Marquês de Pombal, autoriza o cultivo do tabaco nas terras Durienses, mas em vão. Não sabíamos cultivar tabaco, nunca tínhamos ouvido falar da cultura, não fazia parte da nossa cultura.
Aquilo que nos une à vinha é muito mais forte do que aquilo que nos separa…